Florianópolis é a capital com maior aumento no preço da gasolina em 2025

Levantamento com dados da Agência Nacional do Petróleo revela que motorista da Capital enfrenta maior elevação de valores do país, enquanto diferença de preços entre postos de combustíveis cai para 4%

Com um aumento de 10,9% no preço médio da gasolina comum de um ano para o outro, a variação de preços foi no caminho inverso: de 11,6% na média de 2024 para 4,02% até agosto deste ano.

Os números são do levantamento feito pelo Núcleo de Dados do Grupo ND com base nas informações da ANP (Agência Nacional do Petróleo).

 

Realidade que é sentida no dia a dia de quem circula pela cidade. A servidora Joyce Santos, que roda cerca de 500 km por semana, resume a percepção geral: “Não vejo diferença nenhuma entre postos, mas vejo que aqui em Floripa a gasolina é mais cara”.

A pequena margem para economia é detalhada pelo arborista Renan de Oliveira Fernandes, que roda o equivalente a um tanque por semana. “Varia pouco. Varia principalmente nos postos de regiões mais nobres, mas ainda assim, muito pouco. Aqui, na Beira-Mar, estou pagando R$ 6,79, mas no meu bairro, Carianos, eu pago R$ 6,57, por aí.”

A reportagem do Grupo ND rodou por diferentes regiões da Capital para observar a diferença nos valores. O Centro registrou tanto o maior quanto o menor valor encontrado: R$ 6,79 na Beira-Mar e R$ 6,50 na avenida Mauro Ramos.

Em outras regiões como Norte, Sul da Ilha e Continente, os valores ficaram na faixa de R$ 6,58 (como na Costeira, Rio Tavares e Coqueiros) a R$ 6,69 (Canasvieiras e SC-401).

 

Aumento de 10,9% no preço da gasolina

Neste ano, o motorista de Florianópolis sentiu no bolso o maior aumento no preço da gasolina comum entre todas as capitais do Brasil. O levantamento compara a média de preços de 2024, em que o valor médio do litro foi de R$ 6,02,  com a de 2025, que saltou para R$ 6,68.

O reajuste na cidade ficou à frente de outras capitais que também tiveram altas expressivas, como Brasília, com 10,1%. O aumento em Florianópolis foi consideravelmente superior ao de grandes centros como São Paulo (6,6%) e Rio de Janeiro (5%), e muito distante da realidade de Natal, que teve a menor alta do país, de apenas 1,2%.

Análises de preço nos postos de Florianópolis em 2025 mês a mês

Mensalmente, a pesquisa da ANP analisa os valores de 50 a 85 postos da capital catarinense. Nos oito meses deste ano, a média de variação nos valores está em 4,02%, e chegou a ficar em apenas 1,80% nos meses de abril e maio.

Variação de preço da gasolina em Florianópolis (SC), de janeiro à agosto de 2025. – Foto: Núcleo de Dados/NDVariação de preço da gasolina em Florianópolis (SC), de janeiro à agosto de 2025. – Foto: Núcleo de Dados/ND

Enquanto o preço sobe, competitividade entre postos diminui em Florianópolis

Além de liderar o aumento de preços no país, Florianópolis se consolidou no ano como a cidade com a gasolina mais cara de Santa Catarina. Somado a isso, ficou mais difícil “caçar” o menor preço pela cidade. Isso porque a variação de valores entre os postos da Capital caiu mais de 12 pontos percentuais desde 2023.

No ano de 2024, por exemplo, a variação média dos preços entre os postos de gasolina em Florianópolis, de 11,6%, ainda era uma das maiores do Estado, atrás apenas de Blumenau, dentre as 21 cidades catarinenses analisadas na pesquisa da ANP (Agência Nacional de Petróleo). Neste ano, no entanto, o índice de 4% coloca a Capital entre as cinco cidades que menos oferecem variedade de preços em Santa Catarina.

O cenário de custos elevados e concorrência reduzida já entrou na mira dos órgãos de fiscalização. Enquanto o Procon/SC monitora a baixa variação de valores e investiga postos por suspeita de abusividade desde o ano passado, o MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) apura, em um inquérito em andamento, o custo elevado do combustível na Capital em comparação com o resto do Estado.

Preços mínimos e máximos do litro da gasolina em Florianópolis e maiores cidades em SC. – Foto: Núcleo de Dados/NDPreços mínimos e máximos do litro da gasolina em Florianópolis e maiores cidades em SC. – Foto: Núcleo de Dados/ND

Gasolina mais cara de Santa Catarina

Os dados mais recentes da ANP, de agosto deste ano, mostram uma disparidade regional: enquanto a região da Grande Florianópolis se destaca com os preços mais altos, cidades do Vale do Itajaí e do Sul do Estado, como Itajaí, Joinville e Tubarão, apresentaram os valores médios mais baixos.

Essa tendência se aprofunda ao olhar para os extremos. Florianópolis não só tem a média mais alta, mas também registrou o preço máximo mais caro de todo o Estado.

Em contrapartida, é em Tubarão onde o consumidor atento encontra a gasolina mais barata de Santa Catarina, com o preço mínimo mais baixo entre todos os municípios pesquisados.

Sindicato aponta custos e logística como desafios na Capital

Para o Sindópolis (Sindicato de Comércio Varejista de Combustíveis Minerais de Florianópolis), o cenário de preços da gasolina em Florianópolis é reflexo dos desafios operacionais da região.

O presidente da entidade, Vicente Santanna Neto, reforça que, embora o preço final seja responsabilidade de cada posto, fatores externos pressionam os valores para cima.

“O que se observa em Florianópolis é que fatores como logística de abastecimento mais onerosa, custos operacionais superiores e a sazonalidade turística impactam o valor final”, explica Santanna Neto.

Concorrência entre postos de gasolina em Florianópolis diminui – Foto: Reprodução/Freepik/NDConcorrência entre postos de gasolina em Florianópolis diminui – Foto: Reprodução/Freepik/ND

Ele detalha que os postos da cidade “enfrentam custos logísticos e operacionais mais altos que em outras regiões do Estado, notadamente pelo frete de suprimento, valores de aluguel e encargos locais”.

Sobre a baixa variação de preços, o presidente afirma que a diferença “continua existindo” e que ela “decorre da dinâmica de mercado e das condições de compra e operação de cada revendedor”.

Em relação às investigações dos órgãos de fiscalização, o Sindópolis declarou que “acompanha com respeito e atenção o trabalho” e “apoia todas as medidas de fiscalização que visem à transparência e ao equilíbrio do mercado.”

Preços elevados na Capital entram na mira do Ministério Público

Por meio de nota, o MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) informou que há uma investigação em andamento após reclamações do custo elevado do combustível em Florianópolis em comparação a outros municípios.

“A 29ª Promotoria de Justiça da Comarca da Capital, com atribuição na área da defesa do consumidor, a partir de representação de um cidadão, instaurou uma notícia de fato para apurar suposta diferença de valores nos preços da gasolina em postos da Grande Florianópolis em comparação com postos de outras regiões do Estado de Santa Catarina”, diz a nota.

Mais de 30 fiscalizações foram feitas pelo Procon-SC em postos de gasolina em Florianópolis – Foto: Divulgação/Freepik/NDMais de 30 fiscalizações foram feitas pelo Procon-SC em postos de gasolina em Florianópolis – Foto: Divulgação/Freepik/ND

A reportagem solicitou uma entrevista e mais informações sobre o tema, mas o órgão, via assessoria de imprensa, destacou que o “referido procedimento encontra-se em andamento, aguardando informações solicitadas, não sendo possíveis informações conclusivas nesse momento.”

Procon monitora variação de valores e mantém alerta na região

Para a delegada Michele Alves, do Procon-SC, a variação de preços da gasolina em Santa Catarina é explicada por fatores como logística e custos operacionais distintos entre os postos.

“Tem posto que tem caminhão próprio para transporte, outros pegam de distribuidoras mais próximas, e isso gera diferenças no custo”, explica. Ainda assim, a pouca diferença entre os valores cobrados na Grande Florianópolis preocupa o órgão.

“Preços parecidos, por si só, não caracterizam cartelização, mas aumentos simultâneos sem justificativa econômica levantam suspeitas”, afirma.

As investigações abertas após os reajustes de outubro de 2024 analisam justamente esse padrão de comportamento. Segundo Michele, os processos administrativos instaurados contra nove postos da região da Grande Florianópolis buscam verificar se houve abusividade.

“Há uma necessidade de obter uma quantidade representativa de amostragens para entender a dinâmica de formação de preços”, ressalta. Até agora, mais de 30 fiscalizações foram feitas este ano, e o Procon promete divulgar os resultados em breve.

Variação de preços do litro da gasolina em Florianópolis e quatro maiores cidades de SC, de 2022 a 2025. – Foto: Núcleo de Dados/NDVariação de preços do litro da gasolina em Florianópolis e quatro maiores cidades de SC, de 2022 a 2025. – Foto: Núcleo de Dados/ND

Queda na variação de preços neste ano

A análise dos dados revela que a variação média de preços na Capital, que chegou a um pico de 19,63% em 2023, despencou para apenas 4,02%  neste ano. Essa tendência de estabilização, no entanto, não foi uniforme em Santa Catarina.

Florianópolis liderou a queda, com uma redução de 12,69 pontos percentuais na variação de preços quando se compara a média de 2022-2024 com este ano. No mesmo período, outras grandes cidades como Blumenau e Joinville também viram suas variações caírem.

Dentro do recorte das cinco maiores de Santa Catarina, Chapecó destoou do padrão, apresentando um leve aumento na volatilidade dos preços.

10 menores índices de variação de preços do litro da gasolina em Florianópolis e outras capitais. – Foto: Núcleo de Dados/ND10 menores índices de variação de preços do litro da gasolina em Florianópolis e outras capitais. – Foto: Núcleo de Dados/ND

Florianópolis está entre as capitais com menor concorrência no Brasil

A baixa variação de preços coloca Florianópolis em uma posição de destaque no cenário nacional, mas não necessariamente positiva para o consumidor.

O índice de 4,02% registrado neste ano é o sexto menor entre todas as capitais brasileiras, indicando que a “briga” por preços entre os postos é menos intensa do que na maioria do país.

Em todo o Brasil, apenas cinco capitais apresentam um mercado ainda mais estável (ou menos competitivo). São elas: Boa Vista (0,83%), Aracaju (1,89%), João Pessoa (3,31%), Manaus (3,52%) e Rio Branco (3,58%).

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